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terça-feira, março 20, 2007

Abandono

Do fundo enfumaçado e reticente do bar, nasciam as notas que voavam leves e davam cambalhotas por sobre as cabeças dos poucos homens que por ali desaguavam seus vícios e temores naquela madrugada escura e fria. Do fundo sombrio e fartamente enfumaçado daquele bar, nasciam, dos dedos do homem curvo, as notas que perambulavam por todo o lugar levando uma sede diferente àqueles corações perfilados de dores e desperdícios. Dos dedos do homem curvo, sentado ao piano, saíam notas cheias de verdades, um elixir para a realidade mascarada que traziam todos aqueles outros homens dentro de si.

Olhavam-se, eles, como se conhecessem, todos, uns os segredos dos outros, mas não se encaravam, não havia entrechoque de olhares, bastava-lhes o tangenciar das suas precauções. O triste de observar era que aquelas notas, talvez notas fantásticas, provindas dos dedos tão habilidosos do homem curvo que sentado ao piano tentava esquecer que aquela madrugada era, provavelmente, a mais escura de sua amorfa existência, não tocavam aquelas almas, tão alheias que estavam à música.

Música é sonho, e embora todos ali parecessem dormir a letargia de um sono catastrófico, eles não sonhavam. Agiam, todos, como se fossem objetos refratários ao calor intenso de notas. Menos o pianista. A música fazia pouco ou nenhum sentido dentro daqueles ouvidos. Dentro deles, por dentro daqueles homens de olhares apagados, imperava um vazio, um vazio profundo, vivo, pulsante, onde aquelas notas, libertadas ao ar pelas mãos de tão desenvolto e anônimo solista, não se propagavam, não se perpetuavam, não encontravam ressonância. Uma madrugada inteira de desencontros. Corações, desejos, esperanças: tudo perdido entre copos de vinho e desistências. Estilhaços diáfanos de vida.

Passaram-se as horas e aqueles homens com seus passos largos, descalços que estavam na vida, aos poucos desapareceram por caminhos onde também não se cruzariam.

O piano tocou por mais um par de horas até que silenciou devagar, nota a nota. Senti uma mão sutil pousar sobre meu ombro direito, a mão quente e habilidosa do homem curvo que outrora estava ao piano, o solista, que agora tentava avisar-me que também eu teria de partir. Foi então que despertei do sono vão. O quarto estava inteiramente revirado, a janela estava ainda aberta e a luz morna dos raios de sol daquela manhã de maio banhava meu corpo nu que jazia ainda aos pés da cama, farto de uma noite de abandono, desperdícios e devaneios diversos, despido, todo ele, de qualquer espécie de vontade, perdido entre os sons e os silêncios daquela manhã leitosa.

Abandono, Oswaldo Goeldi

8 Comments:

Blogger mg6es said...

o início me lembrou uma cena de bar em Crime e castigo, e no final tbm, o quarto, a solidao, o niilismo.

Belo texto.

[]´s

domingo, março 25, 2007 1:50:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Um conto com bastante poesia.

quarta-feira, março 28, 2007 8:21:00 PM  
Blogger Lua em Libra said...

Ivã,

e se o Pianista - a um tempo -fosse platéia vazia e notas etéreas?
e se - ébrios de desamparo e solidões - fôssemos todos acordados, uma mão no ombro?
a que manhã leitosa nos lançaríamos, então?

Abraço, querido. As perguntas são só pra dizer que ainda preciso pensar muito em teu texto. Lembraria Allan Poe?

quarta-feira, março 28, 2007 9:27:00 PM  
Blogger Bruno Cazonatti said...

Muito bom Ivã. Gostei muito da sua Prosavulsa. Já adicionei seu blog aos meus ácidos favoritos. Bom receber sua visita, volte sempre. Estarei sempre por aqui lendo-te.

Um abraço
Brunø

quinta-feira, março 29, 2007 4:40:00 AM  
Blogger Unknown said...

obrigado pela visita e pelas palavras.
estou lendo o que escreves bem devagar pra poder ter o que ler no dia seguinte. estou gostando muito.

grande abraço.

quinta-feira, março 29, 2007 8:27:00 AM  
Blogger Unknown said...

Este comentário foi removido pelo autor.

quinta-feira, março 29, 2007 8:28:00 AM  
Blogger Adriano said...

é caio fernando esse acordar semi-morto? gostei.

sexta-feira, março 30, 2007 8:38:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Que obra!
É ótimo ler coisas desse tipo... quase adormeci entre os devaneios desse cavalheiro.
Abrçs.

PS: linkei seu espaço junto ao 6° sentido literal.. espero que não se importe.

sexta-feira, março 30, 2007 11:24:00 AM  

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