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quarta-feira, outubro 11, 2006

Os girassóis são para sempre

Vincent van Gogh - Sunflowers

– O mágico da vida é saber a ela se adequar, disse ela parada já bem próxima a mim, para, num instante mais breve que o imediato, completar, maneira única de se libertar.

Pude então ver o ofegar da ânsia escondida entre teus lábios quentes. Moveu-se devagar, com se, na verdade, não se movimentasse. Aparentemente o ar, a balouçar as cortinas finas e fartas do quarto, fazia com que ela flutuasse discretamente.

– Liberdade... falou como que displicentemente.

Foi quando, por estarmos vis a vis, realizei teu hálito leve, levemente desesperado. Tua mão passou então em minha cabeça, ajeitou os poucos fios que a recobria, resvalou até um dos meus ombros e ali hesitou, mas permaneceu.

– Se tivéssemos tudo que nesta vida desejamos, a felicidade não seria uma busca eterna, seria banalizadamente parte integrante dos nossos cotidianos, continuou ela ofertando-me um fechamento.

Percebi então teus dedos tamborilarem minhas reticências, intentando minhas dúvidas encontrar. Um vento mais frio escorreu pela janela, lançou ao teto as cortinas transparentes fazendo-as, lá, serpentear e encontrou-me já de pêlos eriçados por um arrepio calado que me tomou de assalto. Mirou-me, ela, demoradamente, em baixo, bem na ausência que minhas pernas faziam para mim e para ela. Num relâmpago percebi a inutilidade em que havia me tornado e, porque tão clarificado, pude afastar o sentido grandioso da vida que tuas palavras pareciam querer me incutir. Este mundo é um lugar estranho e viver pode não ser tão saboroso quanto o senso comum parece querer informar.

Ela levantou-se rapidamente, um nervosismo delator entregava sua calma falsamente erigida. De pronto lembrei-me do dia fatídico, um ou dois segundos numa curva mais acentuada, uma derrapagem e despertei num quarto alvo, de pé direito alto, com aparelhos cheios de bips, luzes de brilhos intermitentes e um vaso lotado de girassóis amarelo-reluzentes, as únicas criaturas cheias de vida naquele lugar. Eu estava aparentemente bem, até que uma tentativa de levantar do leito frio restou inútil. Havia perdido metade da mim, havia me tornado um homem incompleto, num corpo que não me continha, pelo contrário, limitava-me.

Ana, seu nome era este, voltou a sentar-se diante de mim. Seus olhos vertiam um líquido grosso, carregado de consternação, a escorrer por teu rosto liso para molhar a blusa que usava, bem em cima dos fartos seios. Um tremor sutil descontrolava os movimentos de tuas mãos melindrosas, que, contudo, deitaram suadas onde antes brotavam minhas pernas. Senti, então, as tuas frustrações ante a estranheza, embora a tentativa fosse mostrar conforto, contentamento, resignação.

– Para mim você ainda é um homem inteiro, teu caráter e força vão além, o mundo vai além do que se pode perceber, você não compreende? perguntou-me e viu a resposta despregar dos meus olhos e mudar o ambiente.

Teus olhos, no entanto, diziam-me outras palavras. Palavras proferidas por teu pavor. Naquele momento eu só temia outras verdades, as escondidas naquela tentativa de burla. Procurei meu eixo, procurei fugir, mas estava preso, como nunca quis estar, a uma cama macia demais para minha realidade e de menos para meus tormentos.

Ana encheu-se de coragem e laçou os braços em torno de mim. Senti numa fração de momento um calor forjado, uma necessidade de parecer mais humana do que se poderia ser, de sobrelevar-se. Compreendi. Ai, então, desferiu-me um beijo lânguido e, assim posso contar, perfeito em desfaçatez que intui ser derradeiro. Depois se levantou, ajeitou a beleza passando as mãos no rosto, nos cabelos e nos braços, proporcionando-me uma visão-de-nunca-mais.

– Não te culpo, tentou explicar-se, eu mesma não aprendo as desmesuras dos dias, a insensatez do tempo veloz atingindo como uma tormenta desejos inamovíveis... não deixe a vida atropelar as tuas forças, finalizou trincando a porta em seu encaixe e partiu. Bateu-me forte o trocadilho e odiei-o com o que sobrou de vontade, porém compreendi: certas realidades são mais difíceis de ser encaradas que outras.

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10 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Você se mosrtou um poeta muito bom, agora um excelente contista. Acho que vou ler mais poesia para enriquecer a minha prosa.

quinta-feira, outubro 12, 2006 7:45:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Adoro quando o texto me leva até seu final sem eu me atentar a isso. A leitura flui, é leve e interessante. Gostei muito disso. Beijos.

sexta-feira, outubro 13, 2006 10:24:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Adorei essa imagem de dedos tamborilando reticências. Volte sempre ao Solta no Mundo! Bjs

sexta-feira, outubro 13, 2006 1:57:00 PM  
Blogger André Lasak said...

Muito bom!

Abração!

Ah! E te linkei no Quimera Ufana, viu?

sexta-feira, outubro 13, 2006 6:15:00 PM  
Blogger Nirton Venancio said...

Ivã,
bom sábado, bom domingo pra você. Eu, tô bem, lendo seus escritos na lista dos meus blogs preferidos.

sábado, outubro 14, 2006 3:42:00 PM  
Blogger Bruna Rasmussen said...

que conto LINDO!

me transportou pra outro universo :)

beijos

domingo, outubro 15, 2006 10:30:00 AM  
Blogger Claudio Eugenio Luz said...

Suas narrativas estão cada vez mais singulares e encorpadas; ganhando outras vozes em outros espaços.

hábraços

segunda-feira, outubro 16, 2006 11:25:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Vc está escrevendo melhor a cada dia! E seu estilo está se tornando inconfundível! Parabéns, amigo! Beijo enorme!

terça-feira, outubro 17, 2006 11:33:00 AM  
Blogger douglas D. said...

bom ler você.

quinta-feira, outubro 19, 2006 9:36:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Oi IVÃ

Seu conto é profundo... Viajei legal...MAS VALEU A PENA !!!

VJUC

segunda-feira, novembro 13, 2006 3:58:00 PM  

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